quarta-feira, 6 de julho de 2011

Língua, Poder e Diversidade Cultural

Este blog foi criado pelas alunas Débora Accioly, Marcela Furtado, Mariane Lima, Natanna Magalhães e Rafaela Quadros, estudantes do curso de Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia, com o objetivo de disponibilizar o seu trabalho sobre Cultura exigido pela Professora Verônica Sousa, do componente curricular Língua Portuguesa, Poder e Diversidade Cultural, para os seus colegas. Como tema, escolhemos as NOVELAS e MINISSÉRIES. 
 
Desde o seu surgimento, as novelas e minisséries são os mais populares objetos da cultura. Por serem veiculadas em canais abertos, fazem- se acessível a todas as classes sociais, faixas etárias e espaços geográficos.

Neste trabalho, avaliaremos as novelas e as minisséries sob os aspectos de língua, poder e diversidade cultural.

As novelas e minisséries têm um poder de influência pouco visto em qualquer outro objeto da cultura. Esta influência que exercem sobre as pessoas não tem qualquer restrição de personalidade, gênero ou idade, atingindo a todos que as assistem.

Nas postagens do nosso blog, falaremos as formas de influência e citaremos exemplos. Vocês perceberão que também já se deixaram influenciar pelas novelas!

ATENÇÃO, para visualizar todo o nosso trabalho será necessária clicar em "Postagens Antigas" ao fim desta página.

Obrigada pela visita!

terça-feira, 5 de julho de 2011

AS TELENOVELAS COMO DISSEMINADORAS DE OUTRAS CULTURAS

As telenovelas fazem parte do cotidiano da família brasileira. Nesse contexto, torna-se uma importante ferramenta na difusão de certas culturas para o público. É possível conhecer vários lugares, culturas e tradições por meio das telenovelas e minisséries.

A cultura muçulmana é um dos principais temas de O Clone (Rede Globo, 2000), que tem como fio condutor a história de amor vivida pela muçulmana Jade (Giovanna Antonelli) com o brasileiro Lucas (Murilo Benício). Os dois jovens se apaixonam, mas são impedidos de ficar juntos por causa da tradição muçulmana, defendidos com rigor pelo tio de Jade, o patriarca Sid Ali (Stênio Garcia), que se agarra às crenças e à cultura árabe para arranjar um bom casamento para a sobrinha Jade. Entre os costumes muçulmanos retratados pela autora Glória Perez, a novela aborda a religião islâmica, os papéis masculino e feminino na sociedade, a dança, a língua e a culinária árabes, as cerimônias marroquinas, a poligamia e ainda o choque entre as culturas ocidental e muçulmana. A autora contou com a consultoria de dois xeques importantes no contexto muçulmano e dois irmãos marroquinos. Palestras, textos e filmes sobre os hábitos muçulmanos fizeram parte da fase de preparação do elenco e da equipe. Os atores tiveram aulas de expressões árabes e prática de orações, além de aulas de dança do ventre e de dança árabe para os homens. As primeiras cenas de O Clone foram gravadas em cinco cidades do Marrocos, onde também foi comprada uma boa parte do figurino, denotando assim, a fidelidade com a cultura muçulmana. Além disso, a novela apresentou ao público brasileiro típicos instrumentos musicais árabes. O Clone foi um sucesso de público e expressões árabes faladas pelos personagens ganharam as ruas, como “Maktub”, “Inshalá”, “Haram”, “Jogar ao vento” e “Arder no mármore do inferno”.


Retratar peculiaridades da cultura indiana em contraponto aos hábitos e costumes do Brasil foi uma das premissas da autora Gloria Perez ao escrever Caminho das Índias (Rede Globo, 2009). A novela teve como ponto de partida a paixão proibida entre dois jovens indianos de origens distintas graças ao sistema de castas. Notam-se também as diferenças entre as tradições indianas e o pensamento ocidental, principalmente em relação ao casamento, o respeito aos mais velhos, a educação dos filhos e a postura da mulher. Ocorreram locações na Índia e em Dubai. A profusão de cores presentes na Índia orientou o trabalho das equipes de figurino e maquiagem da novela. O vestuário tradicional, geralmente usado em rituais, foi levado para o dia a dia, para enfatizar a cultura indiana descrita no texto. A novela popularizou expressões como Are Baba, Atchá, Atchatchatcha, Baguan Keliê, Firanghi, Mamadi, Baldi, Namastê, Tik, Tchalô. As atrizes do núcleo da Índia tiveram aulas intensivas de bhangra, uma dança típica indiana, para compor seus papéis. Os atores também treinaram. As músicas e danças da novela conferiram um sabor de Bollywood à novela.


Um caso especial é a novela Negócio da China (Rede Globo, 2008), em que ocorre a mistura principalmente de duas diferentes culturas no bairro Parque das Nações: portuguesa e chinesa. Houveram locações na China e em Portugal. A China apresentada pela novela não era a de tradições milenares, mas um país urbano e agitado. Alguns atores precisaram de treinamento especializado para viverem seus personagens. O núcleo dos portugueses passou por um curso intensivo de panificação e aprendeu a fazer doces portugueses. Outros atores treinavam realmente kung fu. A equipe de figurino esteve em Portugal e na China para conhecer o universo cultural dos dois países, o que ajudou na criação de algumas peças, vários uniformes usados na academia de kung fu Terra do Meio vieram da China, onde também foram compradas sedas para compor o visual de várias personagens femininas.

A novela Explode Coração (Rede Globo, 1995) aborda o universo cigano por meio da história de Dara (Tereza Seiblitz), que, apesar de se orgulhar de suas origens, se recusa ficar presa às tradições, como o contrato de casamento e o estudo limitado oferecido às mulheres. Os personagens de Mio (Ivan de Albuquerque) e Soraya (Laura Cardoso) representam firmemente às tradições ciganas, repudiando até as moradias fixas. Para aprender os hábitos e costumes do povo cigano, os atores fizeram um laboratório, aprenderam danças e expressões em romanês, a língua cigana. O figurino também estava de acordo com os costumes ciganos.


Em Mandacaru (TV Manchete, 1997) o cangaço é tema central, retratando seus costumes e discutindo a questão da terra. Ambientada nos anos 30, em Jatobá, sertão da Bahia, a trama inicia-se após a morte de Lampião (Alceu Valença) e Maria Bonita (Daniela Mercury). Representada principalmente pelas figuras dos cangaceiros Tirana (Victor Wagner) e Zebedeu (Bemvindo Sequeira). Surge na história também a lenda de Dom Sebastião, crença presente no Nordeste Brasileiro. No meio de vinganças, jogos políticos e mulheres que desejam o amor verdadeiro e a felicidade de poder ser mães, a vida de cangaceiros e coronéis do sertão é apresentada. Atualmente, a trama Cordel Encantado (Rede Globo, 2011) traz o cangaço também como um dos seus eixos temáticos, porém com uma visão mais romântica dos cangaceiros do que em Mandacaru.


Outras culturas também foram eixos temáticos de outras novelas. A cultura judaica foi abordada em O Amor Está No Ar (Rede Globo, 1997) através do núcleo de Sofia Schnaider (Betty Lago). A família Schnaider chegou ao Brasil fugida no pós-guerra, e aqui, começou vida nova, construiu uma empresa e ganhou espaço na sociedade pelo próprio trabalho. A cultura italiana foi abordada em diversas telenovelas, como Terra Nostra (Rede Globo, 1999), Esperança (Rede Globo, 2002), as quais tratavam principalmente da questão da vinda dos italianos para o Brasil, além da trama Poder Paralelo (Rede Record, 2009), que focou na questão da máfia italiana.


Em relação à cultura africana, apesar do grande número de negros no Brasil, ainda não houve uma telenovela que retratasse a riqueza desta cultura como tema central. Existem tramas que abordaram a escravidão, como Sinhá Moça (Rede Globo, 1986) e Escrava Isaura (Rede Globo, 1976), porém isto denota a limitação da forma como a cultura negra foi tratada. Tanto em Sinhá Moça como em Escrava Isaura, as protagonistas são brancas e o negro surge apenas como o escravo sofrido, ficando a cultura africana em segundo plano e toda a sua diversidade é subestimada. Em Duas Caras (Rede Globo, 2007), o candomblé foi abordado por meio das personagens de Dona Setembrina (Chica Xavier) e Andréia Bijou (Débora Nascimento), mas também de uma forma superficial, não informando a sociedade sobre a religião, tendo até um caráter mítico na trama.


A teledramaturgia brasileira fez várias tentativas de incluir o universo indígena nas novelas, mas uma breve e superficial análise já mostra uma diversidade de imagens dos indígenas: às vezes inseridos no ambiente de uma trama histórica, às vezes aculturados, às vezes estereotipados. Ora integrados à cultura branca, ora sofrendo preconceito na cidade, ora em conflito por suas terras. Apenas um elemento em comum: a maioria dos personagens foi vivida por atores brancos, como se pode observar em Alma Gêmea (Rede Globo, 2006), em que a personagem Serena (Priscila Fantin) protagonizava uma índia, porém branca. Logo, ainda hoje há lacunas na abordagem geral da cultura indígena com sua história, seus costumes e tradições. Assim como a cultura africana, a cultura indígena não teve uma abordagem profunda de seus diversos aspectos. Atualmente, a novela Araguaia (Rede Globo, 2010) trouxe a figura do índio, representada principalmente pelas personagens Estela (Cléo Pires) e Ruriá (Turíbio Ruiz), mas com uma conotação negativa sobre o índio embasada na maldição indígena contra o protagonista Solano (Murilo Rosa).


Assim, aprendeu-se um pouco mais sobre as culturas muçulmana, indiana, cigana, cangaceira, judaica, italiana, indígena e africana estando apenas em frente a uma televisão. Percebe-se, então, a importância deste meio de comunicação em massa da diversidade presente na sociedade contemporânea.

O ASPECTO HISTÓRICO

A minissérie Lampião e Maria Bonita (Rede Globo, 1982) levou para a tela um dos mais conhecidos episódios da história nacional. O enredo é baseado na vida do mais famoso cangaceiro do Brasil, Virgulino Ferreira da Silva, conhecido como Lampião, um pernambucano nascido em 1897, que se transformou no mais forte símbolo do cangaço. Lampião era conhecido como o rei do cangaço. Em suas andanças, conheceu Maria Bonita, a primeira mulher a fazer parte de um grupo de cangaceiros. A história de Aguinaldo Silva e Doc Comparato acompanha os últimos seis meses de vida de Lampião (Nelson Xavier) e Maria Bonita (Tânia Alves), período até hoje um tanto obscuro na história. Apesar da extensa e cuidadosa pesquisa histórica, a minissérie traz alguns elementos ficcionais. A história narra inúmeras perseguições, fugas do bando, embates com a polícia, enfim, momentos de grande tensão característicos do cangaço. Para produzir a série, autores, diretores e produção visitaram as regiões em que o cangaço imperou, percorrendo de Jeremoabo, na Bahia – município onde nasceu Maria Bonita –, até Angicos, em Sergipe, onde os dois foram mortos. A minissérie foi gravada em diversas cidades do Nordeste, as locações no sertão foram escolhidas a dedo: todos os locais por onde Lampião e Maria Bonita passaram com seu bando, mantendo, assim, fidelidade a real história. Apesar da sólida base histórica, o texto de Lampião e Maria Bonita é uma obra de ficção. Embora se tenha realizado uma pesquisa minuciosa, em que autores, diretores e produtores percorreram a região do cangaço, onde foram feitas investigações e inúmeras entrevistas sobre os protagonistas da história e suas origens, os autores optaram por ter liberdade ficcional, porém, ainda assim, o aspecto histórico encontra-se muito presente na obra.


Com roteiro de Walter Avancini, Abolição (Rede Globo, 1988), minissérie, foi realizada em comemoração ao centenário do fim da escravatura no Brasil. A narrativa é centrada no período em que a Lei Áurea está prestes a ser assinada pela Princesa Isabel (Tereza Rachel), em 13 de maio de 1888. Nesse momento, o tema abolicionista era amplamente discutido nos centros urbanos, enquanto nas áreas rurais as relações escravagistas ainda eram intensamente vividas. A história mostra como e quanto a libertação dos escravos modificou as estruturas da sociedade urbana e rural e as conseqüências dessa libertação para o próprio negro brasileiro. A luta pela libertação é pontuada pelo debate entre as posições de brancos e negros. Para escrever Abolição, Wilson Aguiar Filho contou com a colaboração do historiador Joel Rufino dos Santos. Mas, para assessorar na reconstituição histórica do período, ambos contaram com a ajuda do também historiador Francisco Alencar, que durante dois meses esteve à frente do trabalho ao lado da equipe de autores. A utilização de pequenos trechos falados em iorubá e em português com sotaque francês ou italiano mostra o cuidado na reconstituição dos tipos que circulavam na Corte e na zona rural na época. Para a composição de seus personagens, o elenco também teve aula de dança de origem africana.

Em 1989, comemorava-se o centenário do nascimento da República no Brasil, e o povo voltava a escolher pelo voto direto o seu presidente. Nessas circunstâncias, a TV Globo lançou a minissérie República (Rede Globo, 1989), que buscou mostrar de forma linear e com preocupação quase didática a conspiração tramada nos bastidores do poder imperial para a proclamação da República, iniciada quando militares rebelados aliaram-se a políticos da oposição e, em 15 de novembro de 1889, acabaram por depor D. Pedro II, pondo fim à monarquia no Brasil. As causas preponderantes no processo de proclamação da República são retratadas na minissérie, desde a abolição – com a qual o imperador perde sua mais sólida base de apoio – até o centralismo econômico e administrativo do governo imperial – que resulta numa reivindicação republicana na região Centro-Oeste do país –, culminando com a rebelião militar que envolve federalistas, senhores de escravos e republicanos. A minissérie ressalta a falta de participação e envolvimento popular no episódio, a população assistiu indiferente aos acontecimentos políticos.


A minissérie A Muralha (Rede Globo, 2000) conta a saga dos bandeirantes, pioneiros no desbravamento do território brasileiro. Paulistas em sua maioria, por volta de 1600, suas atividades consistiam em abrir rotas rumo ao interior do país em busca de riquezas e, também, índios, para serem vendidos como escravos. Mesmo sob domínio territorial português, a luta pela posse das propriedades era constante. Vindos de diferentes partes do mundo, inúmeros forasteiros e estrangeiros tentavam se apossar do território conquistado pelos bandeirantes. As cenas iniciais da minissérie reproduzem a captura de índios pelos bandeirantes, que era feita de forma violenta e repleta das atrocidades inerentes à cultura de poder baseado em opressão, conforme o pensamento então vigente. A produção da minissérie contou com auxílio especializado de alguns caciques e pajés de tribos brasileiras e contou com o apoio do Funai. Para que o elenco e a equipe técnica entendessem o universo dos índios da época, quatro workshops foram preparados pela produção. A autora Maria Adelaide Amaral decidiu contar ao telespectador o período histórico inaugurado com o ciclo dos bandeirantes paulistas.


O enredo de A Casa das Sete Mulheres (Rede Globo, 2003), minissérie, narra a trajetória de personagens reais e fictícios durante a Revolução Farroupilha – movimento separatista antiimperial ocorrido na então província do Rio Grande do Sul (1835-1845). A história se desenvolve a partir da ótica das mulheres da família de Bento Gonçalves (Werner Schünemann), líder dos farrapos, e tem como pano de fundo as ações desses homens nas batalhas contra as tropas do Império. A Guerra dos Farrapos significou a consolidação do Rio Grande do Sul como grande força política do país. Através da narrativa, a minissérie discute a formação étnica, cultural e geográfica do Rio Grande do Sul e o papel das mulheres na sociedade e na guerra. Outro ponto importante abordado pela trama é a história dos negros levados para a região, que tiveram importante influência na organização e operação das charqueadas – uma das atividades econômicas principais do estado na época – e papel de destaque na Guerra dos Farrapos, a minissérie mostrava que os escravos das estâncias não estavam submetidos à estrita vigilância nem eram atirados às senzalas, como acontecia em outras províncias do Brasil. Para a reconstituição dos fatos históricos foi necessária uma pesquisa rigorosa de todas as áreas envolvidas na produção, foram realizadas palestras com historiadores e especialistas na Revolução Farroupilha. Porém, alguns historiadores criticaram a forma pela qual a minissérie retratou a Guerra dos Farrapos, idealizando o líder gaúcho Bento Gonçalves. Segundo eles, a história apresentada mostrava Bento Gonçalves como um homem decidido a acabar com as injustiças sociais, enquanto os brasileiros que lutavam ao lado do Império eram apresentados como vilões.

Baseada na trajetória de Juscelino Kubitschek, a minissérie JK (Rede Globo, 2006) é dividida em três fases: a primeira dura apenas o capítulo inicial e mostra o nascimento e a infância de Juscelino até a morte de seu pai. A segunda contempla o período que vai do início da faculdade de Medicina, passa pelo seu ingresso na vida política e segue até a posse como prefeito de Belo Horizonte. Por último, a minissérie mostra a trajetória do político, já em plena atividade, até ser eleito presidente da República e, depois, sua vida no exílio e o acidente automobilístico que o matou, em agosto de 1976. A minissérie mostra toda a campanha de Juscelino pela presidência da República pelo PSD, os anos de governo de Juscelino, a construção e inauguração da capital Federal, a estratégia com o Plano de Metas, o sonho de avançar 50 anos em 5, os ataques ao governo movidos pela UDN e por parte da imprensa, um pouco da Ditadura Militar e a morte de um dos maiores presidentes do Brasil. Os autores e sua equipe de pesquisa estudaram e trabalharam durante um ano no roteiro, que narrou os 74 anos de vida do político e, dessa forma, a história do próprio Brasil.


A minissérie Amazônia – de Galvez a Chico Mendes (Rede Globo, 2007), narra a história do Acre, a última região a ser anexada ao território brasileiro. Durante muitos anos, o estado, antes boliviano, atraiu nordestinos e estrangeiros que deixavam suas cidades em busca de uma vida melhor através da extração do látex. A busca incansável por novas áreas de extração prejudicou a natureza, cada vez mais explorada de forma predatória, e trouxe pobreza para a região. Para narrar a minissérie, a autora Glória Perez misturou dados reais e ficção. A história começa em 1899, no Acre, e mostra a vida nos seringais no período áureo da borracha, quando apenas a região era produtora do material e despertava o interesse do mundo inteiro. Os seringueiros ficavam nas mãos do coronel, que controla todos os seus gastos, monopolizando os produtos à venda no armazém e estabelecendo preços abusivos. O estado do Acre vive uma difícil situação, pois, apesar de ser território boliviano, fora povoado por brasileiros que migravam do Nordeste atraídos pela exploração da borracha. A fase do período de decadência da borracha também é contada através de tramas ficcionais. A outra fase da história se passa na década de 1980 e apresenta Chico Mendes (Cássio Gabus Mendes) adulto, a terceira figura emblemática na história do Acre. Preocupado com a exploração desenfreada da floresta amazônica e a precária situação dos seringueiros, Chico Mendes decide se organizar para lutar por mudanças. A equipe gravou cenas na região Norte, em locações no Acre e no Amazonas. Para auxiliar na composição de seus personagens, alguns atores visitaram o Seringal Chico Mendes, uma área de preservação em Xapury, no Acre, para se familiarizarem com o cotidiano do universo dos seringueiros, conhecendo até mesmo histórias reais de quem vivenciou a época retratada pela minissérie.



A primeira telenovela brasileira a abordar o período da ditadura militar no Brasil em sua trama central é Amor e Revolução (Rede SBT, 2011). Ambientada no Rio de Janeiro e em São Paulo, a trama tem início com a Revolução de 1964 e perpassa pelo período mais obscuro da ditadura militar, os chamados anos de chumbo. “A intenção é narrar a história de personagens diretamente ligados ao tema da ditadura, seja a favor ou contra, como militares, guerrilheiros, torturadores, artistas, jornalistas, advogados e estudantes nos anos brutais da repressão. É possível que avancemos até a guerrilha do Araguaia, no começo da década de 70”, observa Tiago Santiago, autor da história. Amor e Revolução conta a grande história de amor vivida pelo militar José Guerra (Claudio Lins) e pela guerrilheira Maria Paixão (Graziela Schmitt), casal protagonista do folhetim. A história da luta armada pelos ideais da democracia e liberdade no Brasil, a violência aos direitos humanos, a luta pela liberdade de expressão por meio da arte e da imprensa, a desagregação de famílias, a força de estudantes engajados que defendem a igualdade social no país, e as atrocidades cometidas contra os presos políticos são alguns dos temas abordados em torno da trama central.  A novela levanta discussões sobre as mudanças comportamentais na década de 60, como a liberação da mulher após a pílula, o feminismo, o movimento hippie, a cena teatral e musical, as transformações provocadas pela moda, entre outras revoluções culturais dos anos 60. A novela quase foi censurada graças aos militares que não queriam sua exibição.

LINGUAGEM

A língua sofre variação entre as telenovelas e minisséries. A diversidade da língua também se faz presente em uma mesma trama. Afinal, a linguagem tem que ser entendida por quem assiste e, assim, a norma culta não pode ser adotada como única nas falas dos personagens, até mesmo porque os personagens não possuem o mesmo grau de instrução.

A novela Cordel Encantado (Rede Globo, 2011) traz uma linguagem carregada no falar do sertanejo e outra mais rebuscada na Corte de Seráfia. Um exemplo simples, é o uso dos termos “mainha” e “painho”, usados pela protagonista Açucena (Bianca Bin) e a sofisticação das falas do Rei Augusto (Carmo Dalla Vecchia). Por meio da personagem Maria Cesária (Lucy Ramos), nota-se uma preocupação em falar correto para ser aceita pelos outros, principalmente pelos representantes da “elite”.


Outro fato a ser analisado é a aceitação e uso popular de alguns termos e jargões das novelas. Em O Clone (Rede Globo, 2001), Dona Jura (Solange Couto) trouxe “Não é brinquedo, não!” e Odete (Mara Manzan) popularizou “Cada mergulho é um flash”. Em Roque Santeiro (Rede Globo, 1985), Senhorzinho Malta (Lima Duarte) expressava “Tô certo ou to errado?”, já em Caras e Bocas (Rede Globo, 2009), Bianca (Isabelle Drumond) traz “É a treva!”. E vários outros jargões surgem e se popularizam na língua.

Há também as diferenças entre a linguagem adotada pelas telenovelas. Em Malhação (Rede Globo) e Rebelde (Rede Record), a língua é mais moderna e impregnada de gírias com o intuito de atrair e fazer parte do mundo jovem. Já em Insensato Coração (Rede Globo, 2011), percebe-se uma linguagem menos diversa e mais sofisticada, pois o objetivo agora é atrair os adultos e há personagens que exigem um rebuscamento maior em suas falas, porém de forma que o público entenda. É notável a diferença entre Macho Man (Rede Globo, 2011), A Mulher Invisível (Rede Globo, 2011), com uma linguagem mais popular, e A Casa das Sete Mulheres (Rede Globo, 2003) e JK (Rede Globo, 2006), que trazem uma língua mais complexa até mesmo por representarem uma história do passado.

Nos vídeos abaixo, ficará clara a diferença entre as linguagens utilizadas nas novelas que atingem públicos diferentes. O primeiro vídeo é de Malhação ID (Rede Globo, 2009) e o segundo de Insensato Coração (Rede Globo, 2011).




Entretanto, todas as tramas apresentam um ponto comum: não adotar unicamente a norma culta. A língua apresenta variações que fazem parte de fato do uso popular e, assim, precisam estar presentes nas telenovelas e minisséries para que haja o entendimento do público. É uma questão até de mercado trazer uma linguagem de fácil compreensão, afinal, quantos falam de acordo com o padrão culto? Dessa forma, pode-se afirmar que existe, sim, variação lingüística também nas telenovelas e minisséries tão presentes na vida dos brasileiros, pois a língua também é algo cultural e faz parte do cotidiano das pessoas.

RACISMO

Assim como na vida real, o racismo é gerador de polêmicas também na ficção. Tanto na denúncia como na promoção do mesmo.  Se analisarmos as primeiras novelas transmitidas no Brasil até as atuais, veremos que os negros nunca tiveram muito espaço nesse campo. Pode-se dizer que essa questão vem mudando de forma progressiva, mas lenta.

Até meados da década de 1960, os negros nas tramas das telenovelas estavam sempre no lugar da tragédia.  Na década de 1970, estreou O Bem-Amado (Rede Globo, 1973), de Dias Gomes. Foi aí que a televisão brasileira experimentou pela primeira vez a cor. Apesar da mudança tecnológica, o negro não saiu de seu lugar estereotipado, que reafirmava um imaginário construído no período escravista: o negro como classe subalterna, sempre no lugar dos serviçais. Surgem nestas décadas as novelas de época que tinham como tema a escravidão no Brasil que reproduziam a versão oficial de que a libertação dos escravos foi um feito realizado só por brancos (Escrava Isaura e Sinhá-Moça).

Entre 1980 e 1990, houve algumas mudanças, em destaque, as representadas pela telenovela Corpo a Corpo (Rede Globo, 1984), onde aparece uma personagem vítima de preconceito racial, a Sônia (Zezé Motta).  Estas duas décadas são consideradas, por muitos, como um período de ascensão do negro na telenovela brasileira. Apesar dessa ascensão, muitas pessoas ainda acreditam que nas novelas brasileiras, o negro é sempre o serviçal, seja como a típica empregada doméstica, no caso das mulheres, ou o guarda-costas, motorista, mordomo ou capanga, no caso dos homens.

Algumas cenas, em especial chamam atenção, como na da novela Pátria Minha (Rede Globo, 1994) de Gilberto Braga, que o poderoso empresário e vilão, Raul Pellegrini  (Tarcísio Meira) humilhava seu empregado negro, que só chorava, sem esboçar reação mais corajosa. Em Viver a Vida (Rede Globo, 2009) de Manoel Carlos, novela que foi ao ar quase 15 anos depois de Pátria Minha, pode-se notar uma grande semelhança, numa cena que passou exatamente na Semana da Consciência Negra em que Tereza (Lílian Cabral) dá um tapa em Helena (Taís Araújo), que pede desculpas ajoelhada.

Além dessa correlação entre as cenas, há também uma questão a ser levantada. Depois de sete Helenas brancas nas novelas de Manoel Carlos, surgiria agora uma que seria interpretada por uma atriz negra, contudo muitos críticos acreditam que a trama seja um pouco diferente das outras Helenas, sendo até considerada superficial, o que fez com que Luciana (Alinne Morais) “roubasse a cena” dos capítulos da novela.


Em entrevista da concedida à Revista ÉPOCA, a atriz mostra sua “indignação” a cerca dos títulos recebidos por serem eles baseados em questões raciais:

ÉPOCA – Na história da televisão brasileira, você carrega o título de primeira protagonista negra de uma telenovela e o de primeira Helena negra do autor Manoel Carlos. Como enxerga esses títulos?

Taís
Araújo – Minha carreira, desde o início, tem sido marcada por títulos como esses: primeira negra a ser protagonista de uma novela (Chica da Silva), primeira negra a ser protagonista na Globo (Da cor do Pecado), primeira negra a apresentar um programa de beleza (Superbonita, do GNT), primeira negra a ser protagonista de uma novela das oito da Globo (Viver a vida). Acredito que tudo isso seja sorte, acompanhada de muito empenho, disciplina e dedicação. Ao mesmo tempo, dispensaria todos esses títulos que também mostram o preconceito e o atraso existentes no meu país, que tanto amo.

DROGAS É UM TEMA QUE NÃO SE ESGOTA NAS NOVELAS

As drogas, naturais ou sintéticas, são substâncias que ao serem introduzidas no organismo, atuam sobre um ou mais de seus sistemas, produzindo alterações em seu funcionamento. O uso de drogas ilícitas é discutido com frequência na teledramaturgia brasileira, sendo as novelas, consideradas por muitos, o veículo mais eficiente para promover a discussão de valores éticos.

O pesquisador em telenovelas na USP, Claudino Mayer, afirma que o assunto está muito presente na sociedade brasileira servindo como um alerta mostrando ao telespectador os modos como essa doença pode ser tratada. Mayer se nega a classificar o tema como um modismo, definindo-o como parte do convívio das famílias do Brasil. Em sua análise, os autores falam desse problema como forma de dar veracidade às tramas. Cada autor traz uma dosagem diferente. Todos com objetivo de convencer o telespectador de que as drogas são ruins.

A novela Passione (Rede Globo, 2010), abordava o assunto das drogas através do personagem Danilo (Cauã Reymond), filho mais velho de Saulo (Werner Schunemann) e Stela (Maitê Proença), usa anfetaminas para melhorar o seu desempenho no ciclismo e logo passa a consumir outros tipos de entorpecentes. Ele deixou uma vida de sucesso no esporte, perdeu o convívio da família e de amigos, lutou contra uma droga que realmente mata. Provou que só é possível sair dessa aceitando a ajuda de especialistas e da família, principalmente. Mas o caminho é árduo e exige muita força de vontade. Silvio de Abreu, autor de Passione, quando questionado que o personagem deveria morrer para poder conscientizar os jovens a respeito das drogas afirma que “Morrendo ou não, o Danilo já é um bom retrato do que acontece em nossa sociedade”. O personagem, no final da trama conseguiu se livrar das drogas, o que infelizmente, na maioria das vezes, não acontece na “vida real”.


A novela O Clone (Rede Globo, 2000), que esta sendo reprisada este ano, traz uma personagem que também se envolve com as drogas, a Mel (Débora Falabella). Assim como Danilo da novela Passione, Mel começou com as drogas consideradas “leves”, no caso dela a maconha. Esta personagem demonstra claramente o fator que na maioria das vezes é desencadeante dessa atitude, o mau relacionamento com os pais e a influência dos amigos. Com a personagem Mel, a novela enfatiza o período em que os jovens se iniciam na experiência e vivem a fase de deslumbramento que caracteriza esse começo. No decorrer da história, Mel sofre as consequências da dependência química, ela chega a ser presa por porte de drogas, participa de um assalto a ônibus, e facilita um assalto a sua própria casa, em que a mãe, Maysa (Daniela Escobar), fica sob a mira de um revólver. Ela sofre um aborto espontânea e depois, grávida novamente, quase morre e bota a vida do filho em risco durante o parto. Como na novela Passione, a autora de O Clone, Glória Perez também mostrou que é possível uma recuperação, pois no final, Mel aceita ir às reuniões dos Narcóticos Anônimos e acaba abrindo uma clínica para dependentes químicos.


Em Poder Paralelo (Rede Record, 2009), o personagem Rudi (Petrônio Gontijo), proprietário de uma boate, irmão mais velho de Tony (Gabriel Braga Nunes), do qual ele tinha ciúmes. Rudi era usuário de drogas de personalidade complexa, tem problemas com os pais e se sente ofuscado por Tony. As drogas e os problemas psicológicos norteiam a vida do personagem permitindo assim se fazer sempre uma analogia com a vida “real”. A novela, em especial, as cenas de Rudi tiveram muita repercussão na sociedade. O ator Petrônio Gontijo, quando questionado sobre seu personagem afirmou que As pessoas olham com identidade para o personagem. Acho que elas se identificam porque todo mundo tem um parente querido numa situação assim, com vício em bebida ou drogas”.

Comparando-se três novelas que retrataram o assunto, percebe-se que em O Clone, a autora Gloria Perez mostrou o lado dos dependentes químicos que “quebravam tudo pela droga", Mel em especial. Já Rudi, em Poder Paralelo, de Lauro Cesar Muniz, é "um personagem tenso, que sofreu até uma overdose". Em Passione, Silvio de Abreu mostra um "retrato glamourizado de um usuário".

Ao discutirem a dependência química, as novelas "abrem os olhos dos telespectadores" para o assunto, servindo como uma mola propulsora para mostrar que o problema ainda está presente na sociedade.
Assim como outros temas recorrentes no cotidiano das pessoas, o alcoolismo já foi abordado e provavelmente ainda será em muitas novelas. Alguns personagens tem uma grande repercussão na mídia, como é o caso de Heleninha Roitman (Renata Sorrah) em Vale Tudo (Rede Globo, 1988), uma alcoólatra. Chocante, porque até então poucos sabiam do alcoolismo como doença e menos ainda, aceito e assim apresentado: por um rico (e mulher) como portador.


A personagem, que tomava porres homéricos, quebrava bares e dizia barbaridades para a mãe Odete Roitman (Beatriz Segall). Sua atuação foi de relevância impar para o enfoque desse dilema social. Pode-se dizer que Heleninha Roitman foi um divisor de águas no trato da doença do alcoolismo no Brasil, tornando-se assim uma das personagens alcoólatras mais famosas da TV, até hoje lembrada por muitos.

As novelas, com o passar do tempo vão acrescentando e expondo à sociedade novos conceitos, servindo como um verdadeiro veículo de informação. Em Viver a Vida (Rede Globo, 2009),a personagem Renata (Bárbara Paz), é alcoólatra e desenvolve drunkorexia, também conhecida como anorexia alcoólica. A doença, que afeta principalmente as mulheres, consiste na substituição da comida pelo álcool. Os drunkoréxicos sofrem de dependência alcoólica e distúrbio alimentar ao mesmo tempo. Em uma das cenas da novela, Renata, se achando gorda, vai direto para a esteira correr. Exausta e fraca, por ter dormido pouco e bebido na noite anterior, ela desmaia. Na novela, o problema de consumo excessivo de bebida alcoólica é uma característica da família. O pai de Renata morreu por causa do vício.