terça-feira, 5 de julho de 2011

RACISMO

Assim como na vida real, o racismo é gerador de polêmicas também na ficção. Tanto na denúncia como na promoção do mesmo.  Se analisarmos as primeiras novelas transmitidas no Brasil até as atuais, veremos que os negros nunca tiveram muito espaço nesse campo. Pode-se dizer que essa questão vem mudando de forma progressiva, mas lenta.

Até meados da década de 1960, os negros nas tramas das telenovelas estavam sempre no lugar da tragédia.  Na década de 1970, estreou O Bem-Amado (Rede Globo, 1973), de Dias Gomes. Foi aí que a televisão brasileira experimentou pela primeira vez a cor. Apesar da mudança tecnológica, o negro não saiu de seu lugar estereotipado, que reafirmava um imaginário construído no período escravista: o negro como classe subalterna, sempre no lugar dos serviçais. Surgem nestas décadas as novelas de época que tinham como tema a escravidão no Brasil que reproduziam a versão oficial de que a libertação dos escravos foi um feito realizado só por brancos (Escrava Isaura e Sinhá-Moça).

Entre 1980 e 1990, houve algumas mudanças, em destaque, as representadas pela telenovela Corpo a Corpo (Rede Globo, 1984), onde aparece uma personagem vítima de preconceito racial, a Sônia (Zezé Motta).  Estas duas décadas são consideradas, por muitos, como um período de ascensão do negro na telenovela brasileira. Apesar dessa ascensão, muitas pessoas ainda acreditam que nas novelas brasileiras, o negro é sempre o serviçal, seja como a típica empregada doméstica, no caso das mulheres, ou o guarda-costas, motorista, mordomo ou capanga, no caso dos homens.

Algumas cenas, em especial chamam atenção, como na da novela Pátria Minha (Rede Globo, 1994) de Gilberto Braga, que o poderoso empresário e vilão, Raul Pellegrini  (Tarcísio Meira) humilhava seu empregado negro, que só chorava, sem esboçar reação mais corajosa. Em Viver a Vida (Rede Globo, 2009) de Manoel Carlos, novela que foi ao ar quase 15 anos depois de Pátria Minha, pode-se notar uma grande semelhança, numa cena que passou exatamente na Semana da Consciência Negra em que Tereza (Lílian Cabral) dá um tapa em Helena (Taís Araújo), que pede desculpas ajoelhada.

Além dessa correlação entre as cenas, há também uma questão a ser levantada. Depois de sete Helenas brancas nas novelas de Manoel Carlos, surgiria agora uma que seria interpretada por uma atriz negra, contudo muitos críticos acreditam que a trama seja um pouco diferente das outras Helenas, sendo até considerada superficial, o que fez com que Luciana (Alinne Morais) “roubasse a cena” dos capítulos da novela.


Em entrevista da concedida à Revista ÉPOCA, a atriz mostra sua “indignação” a cerca dos títulos recebidos por serem eles baseados em questões raciais:

ÉPOCA – Na história da televisão brasileira, você carrega o título de primeira protagonista negra de uma telenovela e o de primeira Helena negra do autor Manoel Carlos. Como enxerga esses títulos?

Taís
Araújo – Minha carreira, desde o início, tem sido marcada por títulos como esses: primeira negra a ser protagonista de uma novela (Chica da Silva), primeira negra a ser protagonista na Globo (Da cor do Pecado), primeira negra a apresentar um programa de beleza (Superbonita, do GNT), primeira negra a ser protagonista de uma novela das oito da Globo (Viver a vida). Acredito que tudo isso seja sorte, acompanhada de muito empenho, disciplina e dedicação. Ao mesmo tempo, dispensaria todos esses títulos que também mostram o preconceito e o atraso existentes no meu país, que tanto amo.

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