terça-feira, 5 de julho de 2011

O ASPECTO HISTÓRICO

A minissérie Lampião e Maria Bonita (Rede Globo, 1982) levou para a tela um dos mais conhecidos episódios da história nacional. O enredo é baseado na vida do mais famoso cangaceiro do Brasil, Virgulino Ferreira da Silva, conhecido como Lampião, um pernambucano nascido em 1897, que se transformou no mais forte símbolo do cangaço. Lampião era conhecido como o rei do cangaço. Em suas andanças, conheceu Maria Bonita, a primeira mulher a fazer parte de um grupo de cangaceiros. A história de Aguinaldo Silva e Doc Comparato acompanha os últimos seis meses de vida de Lampião (Nelson Xavier) e Maria Bonita (Tânia Alves), período até hoje um tanto obscuro na história. Apesar da extensa e cuidadosa pesquisa histórica, a minissérie traz alguns elementos ficcionais. A história narra inúmeras perseguições, fugas do bando, embates com a polícia, enfim, momentos de grande tensão característicos do cangaço. Para produzir a série, autores, diretores e produção visitaram as regiões em que o cangaço imperou, percorrendo de Jeremoabo, na Bahia – município onde nasceu Maria Bonita –, até Angicos, em Sergipe, onde os dois foram mortos. A minissérie foi gravada em diversas cidades do Nordeste, as locações no sertão foram escolhidas a dedo: todos os locais por onde Lampião e Maria Bonita passaram com seu bando, mantendo, assim, fidelidade a real história. Apesar da sólida base histórica, o texto de Lampião e Maria Bonita é uma obra de ficção. Embora se tenha realizado uma pesquisa minuciosa, em que autores, diretores e produtores percorreram a região do cangaço, onde foram feitas investigações e inúmeras entrevistas sobre os protagonistas da história e suas origens, os autores optaram por ter liberdade ficcional, porém, ainda assim, o aspecto histórico encontra-se muito presente na obra.


Com roteiro de Walter Avancini, Abolição (Rede Globo, 1988), minissérie, foi realizada em comemoração ao centenário do fim da escravatura no Brasil. A narrativa é centrada no período em que a Lei Áurea está prestes a ser assinada pela Princesa Isabel (Tereza Rachel), em 13 de maio de 1888. Nesse momento, o tema abolicionista era amplamente discutido nos centros urbanos, enquanto nas áreas rurais as relações escravagistas ainda eram intensamente vividas. A história mostra como e quanto a libertação dos escravos modificou as estruturas da sociedade urbana e rural e as conseqüências dessa libertação para o próprio negro brasileiro. A luta pela libertação é pontuada pelo debate entre as posições de brancos e negros. Para escrever Abolição, Wilson Aguiar Filho contou com a colaboração do historiador Joel Rufino dos Santos. Mas, para assessorar na reconstituição histórica do período, ambos contaram com a ajuda do também historiador Francisco Alencar, que durante dois meses esteve à frente do trabalho ao lado da equipe de autores. A utilização de pequenos trechos falados em iorubá e em português com sotaque francês ou italiano mostra o cuidado na reconstituição dos tipos que circulavam na Corte e na zona rural na época. Para a composição de seus personagens, o elenco também teve aula de dança de origem africana.

Em 1989, comemorava-se o centenário do nascimento da República no Brasil, e o povo voltava a escolher pelo voto direto o seu presidente. Nessas circunstâncias, a TV Globo lançou a minissérie República (Rede Globo, 1989), que buscou mostrar de forma linear e com preocupação quase didática a conspiração tramada nos bastidores do poder imperial para a proclamação da República, iniciada quando militares rebelados aliaram-se a políticos da oposição e, em 15 de novembro de 1889, acabaram por depor D. Pedro II, pondo fim à monarquia no Brasil. As causas preponderantes no processo de proclamação da República são retratadas na minissérie, desde a abolição – com a qual o imperador perde sua mais sólida base de apoio – até o centralismo econômico e administrativo do governo imperial – que resulta numa reivindicação republicana na região Centro-Oeste do país –, culminando com a rebelião militar que envolve federalistas, senhores de escravos e republicanos. A minissérie ressalta a falta de participação e envolvimento popular no episódio, a população assistiu indiferente aos acontecimentos políticos.


A minissérie A Muralha (Rede Globo, 2000) conta a saga dos bandeirantes, pioneiros no desbravamento do território brasileiro. Paulistas em sua maioria, por volta de 1600, suas atividades consistiam em abrir rotas rumo ao interior do país em busca de riquezas e, também, índios, para serem vendidos como escravos. Mesmo sob domínio territorial português, a luta pela posse das propriedades era constante. Vindos de diferentes partes do mundo, inúmeros forasteiros e estrangeiros tentavam se apossar do território conquistado pelos bandeirantes. As cenas iniciais da minissérie reproduzem a captura de índios pelos bandeirantes, que era feita de forma violenta e repleta das atrocidades inerentes à cultura de poder baseado em opressão, conforme o pensamento então vigente. A produção da minissérie contou com auxílio especializado de alguns caciques e pajés de tribos brasileiras e contou com o apoio do Funai. Para que o elenco e a equipe técnica entendessem o universo dos índios da época, quatro workshops foram preparados pela produção. A autora Maria Adelaide Amaral decidiu contar ao telespectador o período histórico inaugurado com o ciclo dos bandeirantes paulistas.


O enredo de A Casa das Sete Mulheres (Rede Globo, 2003), minissérie, narra a trajetória de personagens reais e fictícios durante a Revolução Farroupilha – movimento separatista antiimperial ocorrido na então província do Rio Grande do Sul (1835-1845). A história se desenvolve a partir da ótica das mulheres da família de Bento Gonçalves (Werner Schünemann), líder dos farrapos, e tem como pano de fundo as ações desses homens nas batalhas contra as tropas do Império. A Guerra dos Farrapos significou a consolidação do Rio Grande do Sul como grande força política do país. Através da narrativa, a minissérie discute a formação étnica, cultural e geográfica do Rio Grande do Sul e o papel das mulheres na sociedade e na guerra. Outro ponto importante abordado pela trama é a história dos negros levados para a região, que tiveram importante influência na organização e operação das charqueadas – uma das atividades econômicas principais do estado na época – e papel de destaque na Guerra dos Farrapos, a minissérie mostrava que os escravos das estâncias não estavam submetidos à estrita vigilância nem eram atirados às senzalas, como acontecia em outras províncias do Brasil. Para a reconstituição dos fatos históricos foi necessária uma pesquisa rigorosa de todas as áreas envolvidas na produção, foram realizadas palestras com historiadores e especialistas na Revolução Farroupilha. Porém, alguns historiadores criticaram a forma pela qual a minissérie retratou a Guerra dos Farrapos, idealizando o líder gaúcho Bento Gonçalves. Segundo eles, a história apresentada mostrava Bento Gonçalves como um homem decidido a acabar com as injustiças sociais, enquanto os brasileiros que lutavam ao lado do Império eram apresentados como vilões.

Baseada na trajetória de Juscelino Kubitschek, a minissérie JK (Rede Globo, 2006) é dividida em três fases: a primeira dura apenas o capítulo inicial e mostra o nascimento e a infância de Juscelino até a morte de seu pai. A segunda contempla o período que vai do início da faculdade de Medicina, passa pelo seu ingresso na vida política e segue até a posse como prefeito de Belo Horizonte. Por último, a minissérie mostra a trajetória do político, já em plena atividade, até ser eleito presidente da República e, depois, sua vida no exílio e o acidente automobilístico que o matou, em agosto de 1976. A minissérie mostra toda a campanha de Juscelino pela presidência da República pelo PSD, os anos de governo de Juscelino, a construção e inauguração da capital Federal, a estratégia com o Plano de Metas, o sonho de avançar 50 anos em 5, os ataques ao governo movidos pela UDN e por parte da imprensa, um pouco da Ditadura Militar e a morte de um dos maiores presidentes do Brasil. Os autores e sua equipe de pesquisa estudaram e trabalharam durante um ano no roteiro, que narrou os 74 anos de vida do político e, dessa forma, a história do próprio Brasil.


A minissérie Amazônia – de Galvez a Chico Mendes (Rede Globo, 2007), narra a história do Acre, a última região a ser anexada ao território brasileiro. Durante muitos anos, o estado, antes boliviano, atraiu nordestinos e estrangeiros que deixavam suas cidades em busca de uma vida melhor através da extração do látex. A busca incansável por novas áreas de extração prejudicou a natureza, cada vez mais explorada de forma predatória, e trouxe pobreza para a região. Para narrar a minissérie, a autora Glória Perez misturou dados reais e ficção. A história começa em 1899, no Acre, e mostra a vida nos seringais no período áureo da borracha, quando apenas a região era produtora do material e despertava o interesse do mundo inteiro. Os seringueiros ficavam nas mãos do coronel, que controla todos os seus gastos, monopolizando os produtos à venda no armazém e estabelecendo preços abusivos. O estado do Acre vive uma difícil situação, pois, apesar de ser território boliviano, fora povoado por brasileiros que migravam do Nordeste atraídos pela exploração da borracha. A fase do período de decadência da borracha também é contada através de tramas ficcionais. A outra fase da história se passa na década de 1980 e apresenta Chico Mendes (Cássio Gabus Mendes) adulto, a terceira figura emblemática na história do Acre. Preocupado com a exploração desenfreada da floresta amazônica e a precária situação dos seringueiros, Chico Mendes decide se organizar para lutar por mudanças. A equipe gravou cenas na região Norte, em locações no Acre e no Amazonas. Para auxiliar na composição de seus personagens, alguns atores visitaram o Seringal Chico Mendes, uma área de preservação em Xapury, no Acre, para se familiarizarem com o cotidiano do universo dos seringueiros, conhecendo até mesmo histórias reais de quem vivenciou a época retratada pela minissérie.



A primeira telenovela brasileira a abordar o período da ditadura militar no Brasil em sua trama central é Amor e Revolução (Rede SBT, 2011). Ambientada no Rio de Janeiro e em São Paulo, a trama tem início com a Revolução de 1964 e perpassa pelo período mais obscuro da ditadura militar, os chamados anos de chumbo. “A intenção é narrar a história de personagens diretamente ligados ao tema da ditadura, seja a favor ou contra, como militares, guerrilheiros, torturadores, artistas, jornalistas, advogados e estudantes nos anos brutais da repressão. É possível que avancemos até a guerrilha do Araguaia, no começo da década de 70”, observa Tiago Santiago, autor da história. Amor e Revolução conta a grande história de amor vivida pelo militar José Guerra (Claudio Lins) e pela guerrilheira Maria Paixão (Graziela Schmitt), casal protagonista do folhetim. A história da luta armada pelos ideais da democracia e liberdade no Brasil, a violência aos direitos humanos, a luta pela liberdade de expressão por meio da arte e da imprensa, a desagregação de famílias, a força de estudantes engajados que defendem a igualdade social no país, e as atrocidades cometidas contra os presos políticos são alguns dos temas abordados em torno da trama central.  A novela levanta discussões sobre as mudanças comportamentais na década de 60, como a liberação da mulher após a pílula, o feminismo, o movimento hippie, a cena teatral e musical, as transformações provocadas pela moda, entre outras revoluções culturais dos anos 60. A novela quase foi censurada graças aos militares que não queriam sua exibição.

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