As drogas, naturais ou sintéticas, são substâncias que ao serem introduzidas no organismo, atuam sobre um ou mais de seus sistemas, produzindo alterações em seu funcionamento. O uso de drogas ilícitas é discutido com frequência na teledramaturgia brasileira, sendo as novelas, consideradas por muitos, o veículo mais eficiente para promover a discussão de valores éticos.
O pesquisador em telenovelas na USP, Claudino Mayer, afirma que o assunto está muito presente na sociedade brasileira servindo como um alerta mostrando ao telespectador os modos como essa doença pode ser tratada. Mayer se nega a classificar o tema como um modismo, definindo-o como parte do convívio das famílias do Brasil. Em sua análise, os autores falam desse problema como forma de dar veracidade às tramas. Cada autor traz uma dosagem diferente. Todos com objetivo de convencer o telespectador de que as drogas são ruins.
A novela Passione (Rede Globo, 2010), abordava o assunto das drogas através do personagem Danilo (Cauã Reymond), filho mais velho de Saulo (Werner Schunemann) e Stela (Maitê Proença), usa anfetaminas para melhorar o seu desempenho no ciclismo e logo passa a consumir outros tipos de entorpecentes. Ele deixou uma vida de sucesso no esporte, perdeu o convívio da família e de amigos, lutou contra uma droga que realmente mata. Provou que só é possível sair dessa aceitando a ajuda de especialistas e da família, principalmente. Mas o caminho é árduo e exige muita força de vontade. Silvio de Abreu, autor de Passione, quando questionado que o personagem deveria morrer para poder conscientizar os jovens a respeito das drogas afirma que “Morrendo ou não, o Danilo já é um bom retrato do que acontece em nossa sociedade”. O personagem, no final da trama conseguiu se livrar das drogas, o que infelizmente, na maioria das vezes, não acontece na “vida real”.
A novela O Clone (Rede Globo, 2000), que esta sendo reprisada este ano, traz uma personagem que também se envolve com as drogas, a Mel (Débora Falabella). Assim como Danilo da novela Passione, Mel começou com as drogas consideradas “leves”, no caso dela a maconha. Esta personagem demonstra claramente o fator que na maioria das vezes é desencadeante dessa atitude, o mau relacionamento com os pais e a influência dos amigos. Com a personagem Mel, a novela enfatiza o período em que os jovens se iniciam na experiência e vivem a fase de deslumbramento que caracteriza esse começo. No decorrer da história, Mel sofre as consequências da dependência química, ela chega a ser presa por porte de drogas, participa de um assalto a ônibus, e facilita um assalto a sua própria casa, em que a mãe, Maysa (Daniela Escobar), fica sob a mira de um revólver. Ela sofre um aborto espontânea e depois, grávida novamente, quase morre e bota a vida do filho em risco durante o parto. Como na novela Passione, a autora de O Clone, Glória Perez também mostrou que é possível uma recuperação, pois no final, Mel aceita ir às reuniões dos Narcóticos Anônimos e acaba abrindo uma clínica para dependentes químicos.
Em Poder Paralelo (Rede Record, 2009), o personagem Rudi (Petrônio Gontijo), proprietário de uma boate, irmão mais velho de Tony (Gabriel Braga Nunes), do qual ele tinha ciúmes. Rudi era usuário de drogas de personalidade complexa, tem problemas com os pais e se sente ofuscado por Tony. As drogas e os problemas psicológicos norteiam a vida do personagem permitindo assim se fazer sempre uma analogia com a vida “real”. A novela, em especial, as cenas de Rudi tiveram muita repercussão na sociedade. O ator Petrônio Gontijo, quando questionado sobre seu personagem afirmou que “As pessoas olham com identidade para o personagem. Acho que elas se identificam porque todo mundo tem um parente querido numa situação assim, com vício em bebida ou drogas”.
Comparando-se três novelas que retrataram o assunto, percebe-se que em O Clone, a autora Gloria Perez mostrou o lado dos dependentes químicos que “quebravam tudo pela droga", Mel em especial. Já Rudi, em Poder Paralelo, de Lauro Cesar Muniz, é "um personagem tenso, que sofreu até uma overdose". Em Passione, Silvio de Abreu mostra um "retrato glamourizado de um usuário".
Ao discutirem a dependência química, as novelas "abrem os olhos dos telespectadores" para o assunto, servindo como uma mola propulsora para mostrar que o problema ainda está presente na sociedade.
Assim como outros temas recorrentes no cotidiano das pessoas, o alcoolismo já foi abordado e provavelmente ainda será em muitas novelas. Alguns personagens tem uma grande repercussão na mídia, como é o caso de Heleninha Roitman (Renata Sorrah) em Vale Tudo (Rede Globo, 1988), uma alcoólatra. Chocante, porque até então poucos sabiam do alcoolismo como doença e menos ainda, aceito e assim apresentado: por um rico (e mulher) como portador.
A personagem, que tomava porres homéricos, quebrava bares e dizia barbaridades para a mãe Odete Roitman (Beatriz Segall). Sua atuação foi de relevância impar para o enfoque desse dilema social. Pode-se dizer que Heleninha Roitman foi um divisor de águas no trato da doença do alcoolismo no Brasil, tornando-se assim uma das personagens alcoólatras mais famosas da TV, até hoje lembrada por muitos.
As novelas, com o passar do tempo vão acrescentando e expondo à sociedade novos conceitos, servindo como um verdadeiro veículo de informação. Em Viver a Vida (Rede Globo, 2009),a personagem Renata (Bárbara Paz), é alcoólatra e desenvolve drunkorexia, também conhecida como anorexia alcoólica. A doença, que afeta principalmente as mulheres, consiste na substituição da comida pelo álcool. Os drunkoréxicos sofrem de dependência alcoólica e distúrbio alimentar ao mesmo tempo. Em uma das cenas da novela, Renata, se achando gorda, vai direto para a esteira correr. Exausta e fraca, por ter dormido pouco e bebido na noite anterior, ela desmaia. Na novela, o problema de consumo excessivo de bebida alcoólica é uma característica da família. O pai de Renata morreu por causa do vício.
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