Como exemplo, cito a cena de Vale Tudo (Rede Globo, 1988) que ficou na história das novelas, em que Marco Aurélio (Reginaldo Faria), vice-presidente da TCA, uma empresa de aviação, que comete diversas irregularidades como desvio de dinheiro e corrupção, foge do país num helicóptero dando “banana” para o Brasil, ao som da música “Brasil”, composta por George Israel e interpretada por Cazuza.
E por que não falar sobre Cordel Encantado (Rede Globo, 2011), novela que vem batendo recordes de ibope no seu horário (18h). A novela passa a história do cangaço semelhante à lenda de Robin Hood, na qual os cangaceiros são verdadeiros justiceiros que lutam contra os poderosos coronéis, exploradores dos pobres. Mas o que se tem registrado na história, o que se ouve dizer daqueles que viveram a época do cangaço, é que os cangaceiros até começaram o seu movimento com este ideal, mas que logo abandonaram seus valores para se tornarem assaltantes, estupradores e incendiários, abusando da violência e deixando rastros de sangue por onde passaram.
Ainda em Cordel Encantado, que se passa no fim do século 19 e início do século 20, período em que cerca de 13% da população era negra e 42%, mulata (Dados retirados da pesquisa realizada por Alberto Mussa, citada por R. V. Mattos e Silva no texto “A generalizada difusão da língua portuguesa no território brasileiro”.), só encontramos 4 artistas mulatos, que interpretam Maria Cesária (Lucy Ramos), Damião (Tony Tornado), Juca (Max Lima) e Tibungo (Land Vieira). Para onde foram todos os negros daquela época? Nenhum deles vivia no sertão nordestino? Pois, de acordo com o IBGE, o maior número de negros está na região nordeste do país.
Já em Belíssima (Rede Globo, 2005), Mateus (Cauã Reymond) rouba da própria mãe, se envolve com mulheres mais velhas interessado no dinheiro e, no fim das contas, se dá muito bem.
Em Passione (Rede Globo, 2010), Clara (Mariana Ximenes) apronta de tudo que se pode imaginar: Se passa por técnica em enfermagem e envenena o seu patrão, conquista o italiano Totó (Tony Ramos) e tenta matá-lo duas vezes para ficar com sua herança, é amante de Saulo e o mata a facadas, rouba jóias de Bete Gouveia (Fernanda Montenegro) e incrimina a empregada da casa Olga (Débora Duboc), coloca drogas ilícitas na bolsa de Diana (Carolina Dieckmann) para tirá-la do seu caminho e muitas outras coisas nada legais. Mas no fim da novela, Fred (Reynaldo Gianechini) vai preso em seu lugar e ela aparece em sua última cena com um sorriso no rosto, se passando novamente por técnica em enfermagem em outro país, dando a idéia de que começaria seus golpes novamente.
Em Insensato Coração (Rede Globo, 2011), estamos acompanhando a homossexualidade (Aprofudaremos o assunto no próximo tópico - HOMOSSEXUALIDADE). Apesar de acreditar que esta conscientização deve ser feita, que qualquer tipo de preconceito é uma verdadeira ignorância, a novela está fazendo de maneira forçada e insistente, provocando, inclusive, uma reação contrária na maioria das pessoas que entrevistei enquanto pesquisava. Na novela, os homossexuais são sempre muito simpáticos, bem sucedidos e bonitos, dando a entender que só existem gays assim. Como existem homens e mulheres ruins, negros e brancos ruins, altos e baixos ruins, gordos e magros ruins, existem também homossexuais que fazem coisas ruins. A novela poderia estar trabalhando o preconceito e a violência contra os gays de forma mais sutil e até inconsciente, já que as novelas têm esse poder. Inserir a idéia na mente das pessoas aos poucos dá um resultado melhor que exigir a mudança imediata de uma sociedade preconceituosa.
A sociedade está passando por um período complicado em relação a aceitação da homossexualidade, que está cada vez mais evidente e comum. O número de casos de agressão aos gays, praticado pelos “Pit Boys” ou “Skin Heads”, vem crescendo a cada dia. Mas existem maneiras melhores de se abordar o assunto, sem provocar esta reação contrária. Das 25 pessoas que entrevistei, 17 acreditam que a abordagem está acontecendo de forma exagerada.
Com este poder de informação, com o alcance que as novelas têm, os autores precisam ter cuidado ao desenvolver a sua história. Os vilões devem ter finais ruins.
Outra questão que gostaria de abordar neste tópico é a censura. A novela das 9, por exemplo, é censurada em 12 anos. Essa censura, porém, não funciona, já que os pais não assumem o seu papel de proibir que as crianças assistam programas impróprios para as suas idades.
Se o adulto de personalidade formada, que até passa ou já passou por situações semelhantes às que assiste nas novelas, se deixa influenciar pelos personagens e até tem alguns problemas para separar a realidade da ficção, imagina o que se passa na cabeça de uma criança ao se deparar com os vilões aprontando na TV? É extremamente necessário que os pais estejam atentos ao que seus filhos assistem.
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