O primeiro personagem homossexual retratado numa novela foi o Conrad Mahler (Ziembinsk), que, mesmo casado, mantinha uma relação com o garoto de programa Cauê (Buza Ferraz), na trama O Rebu (Rede Globo, 1974). Cauê acaba se apaixonando pela esposa de Conrad, que a mata por ciúme. O segundo personagem homossexual foi Henri (José Luiz Rodi), o cabeleireiro da trama O Astro (Rede Globo, 1977). Ele e Felipe (Edwin Luisi) matam o personagem Salomão Hayalla (Dionísio Azevedo). Como se pode perceber, os dois primeiros personagens gays foram relacionados à violência.
As próximas novelas retrataram os gays sempre como afeminados e as lésbicas, masculinizadas, estereotipando os indivíduos homossexuais. É o caso das novelas Dancin’ Days (Rede Globo, 1978), Os Gigantes (Rede Globo, 1979) e Brilhante (Rede Globo, 1979).
A novela Um Sonho a Mais (Rede Globo, 1985) exibiu o primeiro beijo entre dois homens, o travestido Anabela Freire (Ney Latorraca) e Pedro Ernesto (Carlos Kroeber).
Na década de 90, a novela A Próxima Vítima (Rede Globo, 1995) trouxe os personagens gays Sandrinho (André Gonçalves) e Jefferson (Lui Mendes). Este casal enfrentava ainda um outro tipo de preconceito – Sandrinho era branco e Jefferson, negro. Uma das cenas mais esperadas de toda a novela foi a que Sandrinho de revela homossexual para a sua mãe, Ana (Suzana Vieira).
Em Torre de Babel (Rede Globo, 1998), o autor Sílvio de Abreu apresentou um romance entre duas mulheres logo nos primeiros capítulos, longe de estereótipos, Rafaela (Christiane Torloni) e Leila (Sílvia Pfeifer). Rafaela e Leila morreram numa explosão em um shopping. Isto provocou, no mundo real, na época, um grande movimento gay contra a Igreja Católica, acusando-a de forçar a sociedade para que as lésbicas tivessem um fim trágico.
A trama Suave Veneno (Rede Globo, 1999) também deu início a um grande movimento gay, mas, desta vez, contra o personagem homossexual que nela havia, Edilberto (Luiz Carlos Tourinho). O Movimento Gay da Bahia afirmava que o personagem era muito afeminado, tornando cada vez mais forte o estereótipo atribuído aos gays.
A novela Mulheres Apaixonadas (Rede Globo, 2003) tinha o casal gay Rafaela (Paula Picarelli) e Clara (Alinne Moraes). Este foi o casal gay mais bem aceito pelo público, que torcia pelas duas meninas. Elas não se vestiam ou agiam como homens e foi isso, provavelmente, que conquistou os telespectadores.
Atualmente no ar, a novela Amor e Revolução (Rede SBT, 2011) exibiu o primeiro beijo – leia-se beijo e não “selinho” – entre duas mulheres. Ocorreu entre as personagens Marina (Giselle Tigre) e Marcela (Luciana Vendramini).
Anos antes, telenovela América (Rede Globo, 2005) gerou uma grande polêmica ao ter uma cena de beijo entre dois gays, Júnior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro), censurada.
Nos últimos anos, tivemos mais gays afeminados em Caras & Bocas (Rede Globo, 2009) - Cássio (Marco Pigossi), que lançou a expressão “Estou rosa chiclete!” – e em Morde & Assopra (Rede Globo, 2011) – Áureo (André Gonçalves).
Já no remake da novela Ti Ti Ti (Rede Globo, 2010), tivemos diversos homossexuais retratados de muitas maneiras. Julinho (André Arteche), cabeleireiro, namorava Osmar (Gustava Leão), fotógrafo, que morreu no início da trama. Do meio para o fim da novela, Thales (Armando Babaioff), surfista bonito, rico e sem qualquer “jeito de gay”, se apaixona por Julinho. Adriano (Rafael Zulu) era super afeminado e trabalhava no mesmo lugar que Paula (Viviane Neto), namorada de Teca (Ana Paula Pedro). As duas meninas eram bem femininas e tinham uma relação estável, mas que não era aceita pela mãe de Teca, Penha (Yaçanã Martins).
Acredito que a novela Ti Ti Ti foi a primeira que retratou a homossexualidade sem impor estereótipos ou a aceitação à sociedade. Nela, o gay podia ser afeminado ou não, cabeleireiro ou não, bem sucedido ou não. O que não acontece na telenovela Insensato Coração (Rede Globo, 2011).
Nesta última, o homossexualismo vem sendo tratado de forma muito forçada, como já foi citado no tópico OS ASPECTOS NEGATIVOS DAS NOVELAS. Os personagens gays são sempre muito bem sucedidos, de boa aparência e honestos – Nelson (Edson Fieschi) é o melhor advogado do Rio de Janeiro, Roni (Leonardo Miggiorin) é um simpaticíssimo empresário, Eduardo (Rodrigo Andrade) é um rapaz super honesto que está, aos poucos, descobrindo sua homossexualidade e Hugo (Marcos Damigo) é professor de Direito na universidade.
É claro que a situação da violência que atinge os homessexuais nos dias de hoje exige uma conscientização da sociedade e, certamente, como podemos ver ao longo do trabalho, não há meio que atinja maior número de pessoas do que as novelas. Porém, essa educação tem que acontecer de forma mais sutil, mostrando sempre os dois lados.
Aliás, em toda situação, seja social, racial, de gênero, preferência sexual etc, existem os dois lados. Assim como existem brancos honestos, existem brancos desonestos. Assim como existem mulheres frágeis, existem mulheres muito fortes. Assim como existem negros pobres que sofrem do racismo, existem negros muito bem sucedidos, que por sinal existe na trama em questão como o personagem André (Lázaro Ramos).
As novelas estereotipavam os homossexuais, e isso não está certo. Mas também não está certo, de uma hora para a outra, os gays serem as melhores pessoas que existem no mundo. É preciso dosar o bom e o ruim, a caricatura e o real, para dar ao público uma visão mais justa sobre a homossexualidade.
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